Minha Pátria

Nos campos de minha terra,
rola o suor
rola o sangue
petrificam-se os sonhos
e a terra cala.
Nos campos de minha terra,
não há glória nem frustração.
Todos já nascem morrendo de desnutrição.
São todas caladas as vozes,
calado o coração.
Não reconhecem qualquer rei,
nos campos de minha terra,
Coronel é sinhô e não há possível outra lei.
Nos campos de minha terra,
são mãos de deus que plantam e colhem,
mãos calejadas, sem olhos e sem ouvidos
que me alimentam poesias tristes,
ideais antigos... tão antigos quanto a terra funda.
Nos campos de minha terra,
os guerreiros não bebem cerveja.
Em noites sem lua quando se lembram o esquecimento
dos antigos, acendem fogueiras e dançam
a dança do seu passado fora do tempo.
Nos campos de minha terra,
há homens e mulheres apaixonados que morrem e matam
todos os dias por liberdade.
Nos campos de minha terra,
a sentença da vida é o sofrimento
e um amargo sentimento órfão dessa história de olhos abertos,
de feridas abertas, de veias abertas.
Nos campos de minha terra,
a vida não é televisionada e a poeira dos homens
transcende os mapas, as cercas e os tratados.
Nos campos de minha terra,
a mais profunda fantasia chora soluçando feito uma criança acuada,
solidão labial que herdamos junto com um florão do "novo mundo"
que não é nem nunca foi nosso, com um lábaro ostentoso e estrelado
de catequizadores jesuítas vestidos de negro,
sedentos de sangue, legitimados por um deus branco de barbas brancas.
Espelhar nossas histórias é um erro histórico,
somos desiguais.

Nos campos de minha terra,
não vamos nos curvar, não seremos dominados,
vivemos e fazemos a nossa própria história com o sangue e o suor latinos.
Nos campos de minha terra,
rasgada em pedaços ainda resiste a nossa identidade violada.
Nos campos de minha terra,
quero beber ainda a liberdade primaveril dos sonhos que não envelhecem,
e quando eu exalar o hálito de meu último suspiro suspenso no ar...
que me enterrem nos campos enfim livres de minha terra,
mas digam que eu sempre amei o mar.

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