Para José Saramago


Alguns homens, não qualquer homem,
raros, raríssimos são
e parece que foram sempre velhos e sábios,
sempre
tristes e belos.
José
mais um deles, fez da língua a nós comum
uma importância antes ignorada.
Tripulante solitário
de sua própria humilde nau,
falou sem travessões e não anunciou seus personagens
- o mar é impessoal -
e pois,
navegou José em busca da ilha desconhecida,
da vida fora dos mapas
porque de alguma forma pareciam todos os outros estarem cegos.
Avistou a terra, seguro porto em Lanzarote,
constava nos mapas como terra de Espanha,
aportou.
Não sendo desconhecida dos homens
contentou-se José por ser Pacífica.
Plantou sua casa, sua vida, seus livros
nesse pedaço firme em meio ao mar incerto.
Plantou às quatro da tarde
tendo o amor como Pilar.
José resiste aos ventos de sua ilha
que por mais conhecida
guarda ainda mil mistérios,
José resiste ao tempo porque é um homem raro
e caminha,
não há mal em olhar por vezes para trás,
na ilha nunca inteiramente explorada de José,
nunca inteiramente conhecida pé a pé,
há ventos por todos os lados
e uma bela triste calmaria inspirada
nos seus olhos úmidos translúcidos aos óculos,
ao tempo, à morte.




foto de Sebastião Salgado

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