Carta para Manoel de Barros

Por fácil que seja o não ter que dizer e ficar de sobrevôo na amplitude
das coisas anominais que penso ter aprendido nas impressões versadas
que Bernardo derramou dos olhos e das mãos e o senhor muito manso poesiou,
Drummondiana é a razão que me leva a querer te escrever o que ainda
que em forma de assobios lhe chegasse algo parecido com uma carta,
e talvez lhe fizesse lembrar daquele seu amigo Rômulo Quiroga que pintava
com casca-árvore-semente-gosma-de-lagarta e até quem sabe te inspirasse
escrever a ele uma carta sobre nada que guardasse consigo muitas águas
e um caramujo-correio a levasse junto com terra úmida mastigada
e cascalhos envelhecidos enquanto o Bernardo caça urupê no mato e se esquece
das mariposas pousadas sobre suas orelhas de pau como adornos naturais
apaziguados em seu coração de peixe serenado - coisa que mistura
propriedades delirantes nascidas na quimera de vegetais subtropicais
ao esquecimento de muito antigas ignorãças que só as pedras
roladas de muitos temporais acumulados saberiam não dizer nem sombrear.

Garças do pantanal trazem no papo mistérios silenciados,
sinto saudade do seu sítio na roça que nunca fui.

0 comentários:

Postar um comentário