Reabilitação da Linguagem

É pela frase que eu começo.
Minha intenção é de profundidades –
a transcendência das linguagens –
que contam sentimentos ancestrais,
entre folhas de bananeiras
habilitadas para insetos.
É coisa que não se diz com boca,
isso boca não sabe dizer.
Nem valeria tanta matéria pura
repetida sem estilo.
Se eu palavreasse esse cheiro fundo
era mais um cuspe, mais um dejeto.

Falar da morte é um depois pra trás.
Pensar no medo não é sentir,
por isso coçar a canela
e assoar o nariz revelam o oculto.
São coisas que minha mão
me disse antes de fugir.

O Corpo são essas vontades.

Quando li Manoel de Barros,
quase não quis descoser escritos.
Desvirginar folhas em branco
com pequenos acertos respeitadores
ou com um verso limpo
que não fosse adúltero.
Seu nada aquático me poesiou.
E o escuro andou pela desimportância,
fiz paráfrase de cotovelo:
- descobri existência na unha cortada.

No mundo todos querem falar
e cansam o dormir das pedras.
Eu quero ser ouvido por lagartos.
Meu distanciamento de entender
quer desentranhar perplexidades de peixe.
O peixe se espanta diante de um pé,
como uma pedra sobressaltada.

Sou velador de pedras dormidas.
Quero pessoa que inventa verdades sem objeto,
pessoa com perplexidade de peixe.
Não é só fabricar uma ilusão amarela,
é advogar em saudade do caramujo.
A terra mijou muitos rios.
As pessoas estão encharcadas de nuvem.
Não vejo o Nada
no dizer de etnociências.
O silêncio se instalou em mim o seu olhar.

Parecer Fenomenológico Existencialista

No fundo a gente não sabe nunca
só na hora da morte, quando a intenção abandona o corpo,
deixa de habitá-lo,
o homem morre quando ele perde a capacidade
de projetar o seu olhar sobre as coisas,
por vezes o homem morre antes do corpo.



* Nota pedagógica: a repetição exaustiva de questões já apreendidas abre brechas para erros induzidos que ganham substância na linguagem.