Pós-Moderno

Eu quero falar em primeira pessoa
a seguinte loucura:

-Eu sou a última pessoa, você é a última pessoa!

As pessoas não existem.

Isso não é sobre poesia.
Isso não é sobre a Escola de Frankfurt.
Isso não é sobre política ou poços de petróleo.
Isso não é sobre movimentos sociais ou zoológicos.
Isso não é sobre ataques zumbis.

Nada é mais importante que uma explosão.

O que interessa
não é
o objeto
e
ou pessoa
que
explode.

O que interessa é o barulho.
O fogo e o artifício.

Isso não é sobre Deus ou drogas sintéticas.
Isso não é sobre a guerra do Paraguai.
Isso não é sobre a reprodutibilidade técnica da arte.
Isso não é sobre o contrabando.
Isso não é sobre as estatísticas - isso não é sobre morrer.

Para estar vivo
não é preciso viver, basta escolher:

mas qual prateleira?

Isso não é sobre o amor.
Isso não é sobre a propriedade privada.
Isso não é sobre o mal estar da civilização.
Isso não é sobre sobreviver a esse mal.
Isso não é sobre os filhos e netos da depressão.
Isso não é sobre os suicidas fracassados.
Isso não é sobre nada.
Isso não é.

Carta Engavetada nº 2

Amor,


eu te escrevo pra me curar de mim mesmo na tua interpretação,
na palavra que ganha a voz da tua consciência e ressoa habitante do teu corpo.
Todo sentimento é maior que qualquer significado, qualquer explicação.
Por isso eu sinto o que te escrevo tanto quanto eu nem soubesse quem eu sou.
Eu enquanto um núcleo isolado, uma solidão no fundo do mar, pouco sou, nada sou.
Mas a vida acontece até o limite de ser a própria consequência infinita de si mesma,
e eu fico tentando esculpir o tempo dentro do espaço que nos compreende,
como se houvesse uma maneira de te amar mais e sofrer menos.

Amar é a vontade de ser no outro, eu aprendi isso em você.
No silêncio do teu tato. E a mesma força que acendeu as estrelas,
habita o sentimento que aperta a boca do estômago, porque o amor que é sempre
relacionado ao coração, quando dói, dói na boca do estômago, como uma fome do avesso.

Viver e estar vivo ao mesmo tempo é muito mais duro que parece. Porque a vida
não é feita de compensações, viver não é intercalar pequenos sofrimentos e pequenas alegrias. É muito mais paradoxal que isso, como sofrer de alegria, como achar bonito
alguém chorando de verdade, na convulsão absurda de estar o tempo todo em situação, de nunca conseguir de fato ser apenas um expectador da vida - você está o tempo todo no seu corpo e o seu corpo está o tempo todo no espaço, toda escolha parte daí. Isso é liberdade.

O amor é o incerto, me parece sempre uma coisa maior, como diz naquela música 'o que é demais nunca é o bastante, a primeira vez sempre a última chance...'. O amor é a garantia de que não há garantias. Eu te amo assim.




p.s.: Amar é a melhor forma de ser livre.