Escrever poderia ser bom, simplesmente escolher palavras e ir colocando-as umas depois das outras como uma imensa matilha de cães e lobos que se cheiram pelo rabo e criam uma corrente que atravessa todo o espaço do nada e ruma pra lugar nenhum.
Mas é preciso coragem para encarar o papel em branco.
O escritor não pode ser um covarde. Nem pode temer a auto-revelação que vive nas suas palavras mais profundamente bem guardadas.
É preciso assumir a própria fraqueza e conhecer a morte de perto
antes de escrever um só verso verdadeiro.
É preciso ser assassinado na Síria e renascer na seca do Sertão.
A verdade é que se você está realmente vivo, em algum momento você vai ter de enfrentar essa doença incurável que te arrebata:
a incapacidade de ser indiferente ao sofrimento humano, essa triste história do mundo dos homens.
Nesse ponto o sentimento de apreciação estética já foi aniquilado, a beleza morta e esquecida.
Tudo não passa de um grande engano. As palavras estão presas na dimensão do discurso.
Tudo pode ser dito, afinal.
Rebeldia é transformar a palavra em ato e fazê-la sangrar nas mãos do leitor.