na tua intenção

Teu amor em mim é:

sol e poeira
vento e lua
chuva e passarinho.
Estrela cadente...
e o desejo de não ter que desejar
Nem me queimar
no fogo branco do excesso.

Gosto do mar
todo mar que há
e atrai pra si todas as coisas.

Existe também o engano
e é muito triste...
melhor mesmo é ser achado.
Isso não se perde nunca
Não dá
Nem que eu quisesse.

A espera vale o encontro.

Gosto dessa sua mansidão.
Vou procurar uma estrela
pra chamar de minha,
bem brilhante... solitária como eu
pra me lembrar sempre você.
Em todos os cinco minutos que fazem minha vida.
Cinco minutos é o tempo em que teu cigarro queima.
Variam tanto cinco minutos...
Em alguns acontece tanta coisa
Noutros, tanto é só a fumaça
a velar o outro lado da rua.

Sabe...

Eu leio na sua alma
um bocado grande de mim mesmo.

Não me agradeça
não carece agradecer
mais me agrada a tua forma
tua forma de ser.
Me agrada é ser.
Também sinto uma vontade danada de te agradecer
de te agradar... e ser
Apenas.

Meu melhor beijo te espera
amadurecendo a cada efêmera despedida.

Não se cubra...
nenhuma roupa vai lhe cair melhor que a tua nudez despida.
Amanhã de manhã te escrevo
um verso de vento.
Seu número tá anotado num pedaço de papel
guardado no bolso...
confia em mim
Não vou perdê-lo
nem vou perder-te.

beijobeijobeijobeijobêi


flor!

da dúvida

Ser poeta

ou

poesia

?

a quem não me conhece


O tempo é impetuoso e ignora se somos intensos ou pacíficos.
As fronteiras são imaginárias
e a beleza da poesia:
é a sua própria e intensa efemeridade...
indiferente aos riscos.

O passado
é como uma coleção de poemas
em que ler é lembrar
e entristecer-se
é sincero.

da simultaneidade


A solidão é o papel do ator. O infortúnio do palhaço. E por mais que lhes pesem todos os olhares: aflitos, sedentos e/ou ameaçadores. É no seio da solidão que cumprem sua sina.

E somos todos nós, palhaços, atores, platéia e olhares...
solidões misturadas.

do julgamento

Julguem-me o quanto quiserem. Não me importo. Aliás, quase me agrada poder suportar esse fardo sem grandes esforços. O que eu mais gosto disso tudo, é que quanto mais impetuoso e ferrenho é o vosso julgamento, tanto maior será vossa surpresa.
Procuro o meu lado mais generoso para tratar convosco, enquanto me rotulam, me limitam a um estereótipo e punem-me com indiferença. Por isso digo surpresa e não engano. Porque o engano nunca me apetece, nem mesmo quando é a meu respeito que se enganam, o engano é uma forma de atraso e já é tempo de despertar.
Vocês não sabem que o que pesa realmente sobre os ombros de um homem é essa capa preta e o martelo irrevogável com que se vestem suas parcas consciências. Não sabeis o valor de um engano? Parece-me que não, do contrário, estariam aprendendo com os teus. Mas o passado está sempre assombrando nossas vidas. Ele é uma armadilha insondável que prende um homem sem mesmo que ele possa antes alcançá-lo. E vocês se perderam num lugar qualquer entre a vida e o passado. Não veem o quanto é vã tua batalha contra o tempo esmagador? Os erros e enganos são buracos em que devemos cair e dentro, neles, sentir medo, pra depois rompermos com a escuridão e as paredes que nos cercam. Pra depois olharmos o céu com menos parcimônia. Aceitem que tudo morre e/ou cai por terra um dia, até os erros mais profundos, até o mais imperdoável dos enganos... julgar.

Palavras nunca me faltaram.
Nem me faltam intenções.
Ansiedade.
A boca seca na fumaça da espera
de que um'outra a compreenda.
Sabe, as vezes é mais fácil sentir a solidão
no meio de muitos. No olho do furacão.
Os olhares... dizem dos mistérios da alma.
Mas eu... sou como esse disco velho, jogado sobre a mesa,
arranhado com indiferença, repleto de segredos esquecidos.
Concebido no útero vulnerável da dúvida.

Eu não quero que o papel acabe. Não quero
que a noite acabe. Quero
a carícia contida, o vento na cara
e a calçada da avenida.
Quero uma solidão madura que acompanhe a minha...
que lhe abrace e lhe estenda a mão.

meu mundo


Senti-me logrado pela perda de coisas que não são, nem nunca foram minhas. Como se o assalto fosse capaz de me subtrair e tornar-me menor diante da vida. Não. Ele não é capaz. Porque tudo o que eu realmente sou está dentro de mim. São as coisas que eu oferto a quem se interessa e não podem ser roubadas. Não me empobrecem tais doações. Não existe valor mercantil nessa troca. Porque o valor quem dá é cada um. E assim é com a vida. A religião que eu crio e creio é o que eu sou de fato, é a minha verdade. Foi assim que nasceu o primeiro santo. Da sua própria verdade absoluta. Não existe o segredo nem o sucesso mecânico e behaviorista de condicionar-se a crer. Existe a vontade sincera de ver. Existe a fé de quem ficou no sertão esperando chover pra salvar a sua ultima vaca magra e ressecada, enquanto todos partiam. Existe a certeza do índio que acredita que a sua dança chama a chuva e a chuva chovendo porque ele não parou um instante sequer até que ela caísse.
Eu faço o meu mundo porque aprendi primeiro que não sou o seu dono. Sou sua criatura e o seu criador.

Homenagem à inspiração

Ah minha cara, assim tem sido com a vida... com o amor. Desencontros. Esperanças frustradas, ideais esquecidos. E a gente aqui, procurando um lugar nosso. Sem saber como e onde. Quem de nós pode dizer como seria se não tivéssemos encontrado amores em braços que insistem em se fazer distantes? Nos tornamos então confidentes discretos, criamos coisas só nossas. Dissemos coisas que não diziamos a ninguém. Verdades. Muitas verdades.
Ora essa amiga, não sustentes esse olhar tão triste. Nem tema pelo que a voz da consciência venha lhe dizer. Que a necessidade, nada mais é do que o próprio medo da necessidade. Eu bem queria saber pintar essa tua tristeza azul com as cores que inventei. Mas teu mistério reside mais fundo do que eu posso chegar. E da tua tela mais pura eu não sou digno.
Entresoube-mo-nos nas palavras que não foram ditas. Adivinhamos as nossas expressões sem nos vermos com os olhos. E foi-me inspirador ver a naturalidade disso. E se voce busca hoje o fogo do amor, o mesmo com o qual eu me queimei. Eu espero e construo com paciência meu amor que não quer estar exposto à boca do dragão quando ele voar sobre nossas casas.
O tempo amiga, só temos o que doamos. Porque tempo ninguém tem, nem ninguém sabe. Mas creia-me, ele transforma todas as coisas, inevitavelmente. Ele revela visões inimaginadas, de lugares pelos quais já passamos. E sofremos por enxergá-lo. "Pois assim tem sido com o amor, ele só conhece sua profundidade na separação." Foi o que li num livro rico de saberes, e guardei na memória pra te dizer, como quem trás nas mãos uma jóia rara que te completa com precisão.
Eu queria mesmo era ser como aquela árvore frondosa e carregada de frutos, que não se importa com o que fazem os homens negociantes que nunca param. Que nunca encontram o seu lugar. A árvore sabe exatamente o seu lugar, e deixa isso claro para quem quiser desfrutá-la, seja no paladar, seja na sua sombra. Eu sou, ou busco ser essa árvore... sempre disposto e um pouco verde oferecendo o que tenho nas mãos e nos olhos pra você: minha doce ausente inspiração.

A Retina

Vai chegar o dia em que eu vou fugir de todas as rotas.
Das rotinas.
Dos rótulos.
E a retina não mais refletirá o nojo das esquinas urinadas, dos amontoados de lixo
jogados aos pés de postes que não iluminam.

O olhos não mais será o espelho lacrimoso
Dos meninos de rua que se perdem entre a cola de sapateiro e um sonho de futebol.
Que se perdem na ilusão - na ilusão que é o carnaval.
E no medo da polícia.

Não adianta fechar os olhos, pra esquecer toda miséria.
É inútil servir-se desse escudo que é pálpebra, visto o visto, e ainda o que há por vir.

Dói trazer nos olhos isso que se diz mundo/homem, que grita fome! - pois os vermes enchem a barriga, mas não nutrem a carne, nem o pensamento - e é tudo vida,
hemorrágica, vomitando violência.