vida


Vida.

Nunca te sei definir. Singular
Talvez.

Entro no ônibus e
não sei,
Se o senhor ao meu lado - de todas as histórias que carrega, no corpo e na memória - já
viu o mar. Nem tampouco
sei se a menininha que aperta o nariz contra a janela,
com seus olhos ávidos de paisagem
um dia o verá.

Quanto a mim
Sinto saudade de ouvir o mar
respirar sua brisa salgada, colecionar conchas e abandonar o corpo...
estirado na areia. Assistindo ao trabalho das nuvens;

passageiras

Buzinas e fumaças interrompem minha surreal fuga
no meio do dia.

O ônibus segue seu circuito por ruas incertas
enquanto eu deliro.
Deliro,
e observo as pessoas. Paradas,
no ponto, fumando, de braços cruzados, olhos e olhares que se abrem e se fecham a
cada ângulo, perdidos ou vidrados,
no carro cinza da pista ao lado ou
Atravessando a avenida.

Ao meu redor.

Mania estranha essa de observar os outros.

Desço do ônibus.
Continuo sem te entender,
vida...
como vejo-a agora, transbordante, parece-me plural, ou melhor,
Plurisingular.

E o indivíduo, por mais individual que se pretenda, mistura-se às coisas da natureza
inevitavelmente.
Porque
todos os cacos de que faz-se a vida
estão repletos desse fogo
Azul
que há nas coisas naturais.

Caminho pela rua,

o caos em meio
e a vida ainda indefinida. Indefinível.

Abrindo

em cada esquina
seus olhos multicoloridos.



* a imagem usada é um quadro de Vladimir Kush

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