Poema de Subversão

Luta homem,
Luta
E
Morre
Lutando.
Liberta o homem
homem,
Liberta-se a si mesmo.
Desagrilhoa tuas palavras:
Escritas
e
Faladas.
Não teme o policial homem,
Ele não é mais que a fantasia de ser.
Transgride homem,
A lei que te aprisiona.
Burla
A constituição fecal
Homem,
Que nem deus te governa!
Mata homem,
Que se não mata
Morre,
De tiro e de fome.
Ama tua morte homem!
E não te submete ao medo
Porque a liberdade é maior
Que o banco.
Rouba homem,
Que a pior prisão não tem barriga.
Vomita homem,
Mas não engole o lixo deles.
Rasga tua roupa homem,
E ateia fogo ao luxo deles.
Se entorpece homem,
Com tudo que lhe é proibido,
Pois a natureza ignora licitações.
Larga tua cruz pesada homem,
Que Jesus foi só mais um filho de José.
Vira menino homem,
Que pro mundo só és um homem
De comprar, prender e vacinar.
Vira menino homem,
Depois luta
e
morre se preciso,
mas morre menino homem,
Que a liberdade é mãe eterna
Das mulheres doces e dos homens de sal
que sonharam suas meninices
debaixo do temporal.

500 Anos de Aliteração em "Au"

Oh que bem ou mal
Num primeiro de Abril
Hei-de desencobrir a encoberta Portugal.

Reúno minha esquadra
Com favela, fumo, furto e fornicação legal
Nem que seja eu o capitão e tripulante
Solitário de minha nau.

Que não me impeçam o calor
Nem sequer um temporal,
Ah pois, eu vou descobrir o Portugal.

Eu vou que vou pagando de Cabral,
Mas não é uma questão imperialista
Nem tampouco é soberba naval,
É que porra! - Tribalização Capital.

Levo comigo um índio tradutor,
Que fala inglês, tupi, brasileirês e português de Portugal.
Que é pra mode eu lhes naturalizar
De minha empreitada o sentido anti-Colonial.

No meio do caminho
Cruzamos Sir Francis Drake uns pirata e tal,
- in the name of Queen Sir Drake,
why don't you suck my pau?
Lhe inquiriu o catequíndio euro-canibal.

Passamos putos pelo pirata paga-pau.
De cima do Equador o buraco é mais embaixo,
Como se debaixo do Equador qualquer buraco fosse buraco de enfiar o pau.
Porque foder latino-africano é que nem assar boi no sal.

Velho mundo velho cabedal,
Levo comigo frevo, ciranda, côco, baião, maracatu
E para plantar-te um imenso bananal!
Da binária pobreza sobrou uma pompa real
E uma posta magra de bacalhau.

Vira-num-vira-vai-virar-já-virou uma imensa Portugal,
Mas na sesmaria sem lei tem de tudo,
Sertão, rio fundo, mato virgem, mangue & town.

De que banda-oceano não difere-se o mal,
Vai-se à padaria, farmácia e lê-se o mesmo jornal.

Só que com as "vergonhas de fora" eles não entendem nosso no sense libertino tropical.

Soneto Desterrado

Soprou as cinzas vento velho
passei sem passado qual passante austero
Saraivando nobre leve entorno ao Hélio,
secos sonhos eu ainda ainda espero.

Esquecimento e concreto férreo
Inverossímil a força bruta do mistério
Solidificado sem terraço ficou meu amor térreo
Transparecido, alvo, um poema estéril.

O fim da vida – não o final – é sem cornaço,
Não fere ou fura: escleral, escura.
Gênese de todo minério e metal; primeiro abraço.

Lirista louco e desgraçado de mazela a cura
Descobre fronteiriço à morte o embaraço
De só quando desterrado encontrar o que procura.

Passageiro

O maior rio não é o mais veloz,
é o mais paciente.
Naquela tarde sem feira virei pedra no rio,
tucano me cagou lá do alto
enquanto folhas submersas acariciavam meus pés sinceros.
Se a ponte velha cair ou não o rio segue
liberdade.

Fui de lá por mim com essas impressões de ser
por trás dos olhos.

Acho que dali só muito tempo depois
aprendi o que o rio me ensinou.
E fiquei assim... Amando amor de rio, de passagem, sem pressa
porque o destino une sem premeditar.
Acumulei muitas pedrinhas no meu leito raso de mistérios simples.

Conchas e amores às minhas margens - minhas correntezas apaixonadas,
flores e amores tudo sobre o barro.
O vento, sinto-o junto à minha superfície acompanhada de si mesma.
Coleciono minhas sensações de liberdades,
beijos sinceros [minha saudade tátil]. Eu sou assim,
passageiro entre coisas,
é a minha sina não ficar, minha bênção e minha pena.

a saudade da maré

Tão longe. Tão perto.
Amanhã?
- Incerto. Madrugo
deserto desperto,
fechado e fachada
aberto.
Nulo, pulo, nada,
abrigo de mãos espalmadas
fundindo eu...

Aperto, há perto
Há! É certo que há
na ausência franca
e pautada do papel: inerte,
manchado por um nome: Alberto ou
qualquer letra desencontrada
do ainda não inventado Alfabeto
de palavras
sem-teto,
sem veto.

Eu sou ao mesmo tempo
o que o meu avô foi - um vir a ser de neto - essa mistura de tempo e árvores,
plantadas ou genealógicas.

Tão longe tão perto
eu de mim mesmo,
meu grande amor
é uma maré
tão certa quanto imprevista,
tão esperada que surpreende.
Existente mas esquecida,
suave a tua brisa e docemente corrosiva.
Mar é mistério
com ou sem tempestade.
É lonjura no perto tocável.

Saudade de inverter aquela palavra
que eu nunca soube nem consegui,
saudade é o mar alto e a praia branca,
é areia fina e grossa fundura.

Fogo de morro acima e água de morro abaixo
nada não segura.