A palavra
não é maior do que dizê-la.
As minhas são minhas porque eu sou egoísta,
nem adianta me dizer que saudade
é maior que a minha boca
ou meu dizer. Eu sou egoísta e as palavras são minhas.
Se eu repito e desgasto as pobres
mais minhas elas passam a ser,
como filhas que eu crio jogadas como quero.
Eu trago as palavras numa sacola,
amasso todas elas e jogo nos olhos das crianças e dos
cachorros. Elas tentam
impessoalizar a boca. Mas a boca é minhas e grita:
- eu.
a boca é minha e grita:
- fogo.
Grita outras bocas de palavras sem boca.
Minha boca tem fome de muitas bocas.
Minha boca significa sem significante.
É uma sacola de palavras furadas e desejos carnais. Minha boca,
é uma sacola furada de palavras carnais. Anuncia fechada
a quarta-feira de cinzas de cada carnaval. Minha boca,
mastiga as palavras de dentro pra fora. Minha boca,
na falta de outra, se beija, se chupa, se mastiga,
se engole e se cospe só por distração. Minha boca,
mordeu a maçã há muito tempo atrás quando ainda se faziam homens de barro
e mulheres da costela de homens de barro. Foi sim,
Minha boca que mordeu a maçã e aquela moça nua naquele jardim bonito que não lembro o nome.
Faz muito tempo.
Faz muito tempo
Minha boca está cheia de prazeres e pecados,
de promessas de pedaços, cheia de putas, de pedidos.
Minha boca,
quer morder maçãs, quer morder meninas, quer continuar pecando,
quer partir copos corações. Minha boca,
quer comer a própria fome e repetir o prato.
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