incabível

O tempo não coube nas mãos.
Escorreu como água escorre.
Ficaram as ausências sublimadas
enquanto eu bebia,
e o corpo cuidou de guardar em si as impressões
de cada noite acompanhado
com ou sem amor.
Coisas que dizem mais que por bem ou mal,
coisas que dizem.
Eu queria escolher sem renunciar,
mas também não coube no tempo,
nem coube na liberdade a idéia de me prender
porque eu não cheguei a conseguir.
E fiquei preso à minha liberdade portuária.
A minha verdade
é que o amor jamais chegou a caber no tempo.
E o tempo das cartas, das fotografias, da casa velha, do trem urbano, até mesmo dos velhos segredos... passou. Coisas que ainda existem,
que podemos revisitar, mas que não nos alcançam mais,
Coisas que se encontram com a fumaça da ausência,
que ultrapassam sua condição passada quando se liquefazem na lágrima presente.
Chorar é doer o interrompido.
O amor não coube no tempo,
escorreu como água escorre e continua escorrendo.

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