Latino America

Por sorte um punhal
afiado de uma sede acordada Aposteriori.
Azar:
muitos venenos,
muitas fontes,
Liberdade
por medida e as-sina solidão,
Porque se rasgam todos os contratos assinados
em cartórios, em carne viva, nos muros da cidade.
Estruturalista e contratual, nosso amor, nossos sonhos
avessos atravessados por tantas dor-mentes insones que rolam nas camas
que temem o escuro do quarto e o sol do meio dia
que sabem rezar mas não crêem em deus. Nosso ideal marcado,
nosso papel ao vento, no meio de tanto eucalipto.
Eu queria viajar de trem, a solidão dos trens
é mais bonita que a dos automóveis, que a das rodovias.
Mas a cidade está cheia de muros invisíveis, que não se pixam
nem se fazem propagandas. Muros e valas, invisíveis pro olho,
Bernardo caiu um dia.
A América Latina está cheia de muros Gabriel! Muros
e valas,
rodovias, asfalto, automóveis, prédios e temporais seculares.
Esse é o tamanho de nossa solidão Gabriel,
nos foi negada a triste e linda solidão dos trens e das estradas de ferro,
doutos senhores decidiram em conselho que índio não tem alma.
E negro bom se reconhece pelo dente.
Violada identidade latino americana,
separados ou unidos não importa! tudo feito à força bruta.
Nos descobrimos pela história que os próprios dominadores nos contaram, nos contamos com as datas que eles definiram e continuamos correndo atrás
de não sermos o que somos, como é dolorida essa busca falsa!
É melhor acreditar nos mitos da floresta,
nos seres fantásticos que nossa inspirada solidão criou de tanta ternura,
é melhor exaltar nossos heróis e guerreiros que se ergueram em tantas lutas
de palavras, de espadas, fogo e poder!
Os nossos heróis, nascidos das entranhas dessa terra rica
que lutaram por ela pisando obstinados o chão que os pariu,
não queremos que os invasores iludam a nós mesmos de sermos invasores,
porque se viemos de fora pra assim sermos chamados, aprendemos com o suor
a amar cada palmo afundo e avante que nos cerca como a uma Mãe maiúscula.
E de Neruda à Vinícius a nossa poesia segredou de muitos lírios amarelos
nossa liberdade ainda que tardia. Cem anos de solidão pesam sobre os ombros de cada um de nós sem sequer sabermos em nossa maioria. Cuidamos nós mesmos das nossas lágrimas e feridas, assim como celebramos nós mesmos nossas vitórias e conquistas.
Construiremos e reconstruiremos nossas casas quantas vezes precisas. Construiremos nós mesmos nosso destino, podre ou glorioso.
Nossos únicos contratos são os cordões umbilicais que cortamos pra crescer,
o leite materno que não se vende e o prazer mais sincero e puro que não se compra.
Nosso amor mestiço represado através de séculos.
Vamos derrubar os muros que nos cercam e nos invadem sutilmente,
vamos desligar a televisão e sua catarse catastrófica,
vamos nos pintar de urucum, do que nós somos e abraçar a nossa solidão
enfim purificada como quem abraça a paz sem forma.

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