No caminho de casa

De relance eu vi o beco vazio
Onde pombos matam a sede nas poças de água suja.
Ouvi
as vozes que se confundem nos bares
Onde homens afogam a sede
Entre tragos de cerveja, cigarro e cachaça.
E os mendigos entorpecidos, desmaiados,
Nas esquinas imundas da cidade. Dormem,
como se o concreto os velasse.

Caminho sem pressa, nem calma. Adiante apenas.
Passo firme inabalável entre automóveis, edifícios e
sons.
Entre pessoas e
Coisas.

A calçada da avenida é como
Um mosaico pisoteado por gigantes.
Deformado pelo tempo; esse gigante sem tamanho.

A vida que é a calçada, deformada,
mosaico borrado,
Desfocado.
Pisoteado pelo tempo, esse déspota indomável.
E nossa carne fatigada, esquecida dos sonhos que
A enxurrada carregou pra dentro dos bueiros escuros.

A calçada sempre termina,
E apesar do seu fim, apesar dos temporais e dos gigantes que lhe pesam,
Ela fica sempre lá... mais suja ou irregular, não importa!
Ela é sempre um trecho do caminho de casa.

A calçada que é a vida.
Emoldurada de barulhos e silêncios, pássaros e morcegos,
Cimento e/ou árvore. É só um trecho, só uma parte,
exposta a ação de todas as coisas.

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